terça-feira, 23 de maio de 2023

Mi(nhas)!

E a vida segue

E persegue, 

E prossegue...


E tu ainda aqui estás

E tu o futuro ditarás

E eu não sei o que traz

o próximo minuto, hora segundo

E nao encontro o teu perfume neste mundo


E haver um segredo

Que não se partilha

Mas cuja memória brilha

No meio de sombras, destemido e sem medo


Na mais profunda floresta

Onde de sol há apenas um fresta

Onde a circunferência de deus tem sua aresta

Há o nosso acordo não falado

Sobre um obscuro passado

Ré(s)!

 E dói-me em espaços

O quão sozinho me encontro no meio de tantos

E quão são escassos

E vejo nos cantos

Sombras de pessoas e gatos

E as corujas do mato

mas, perdido, e sem tato

Reencontro-me vagueando em recantos

Em prantos

Acolhido em luz de velas

O meu coração só conhece celas


Deambulo pelos crepúsculos

E vejo-me alheio

Encosto ao peito

Que a morte aceito

Que na verdade a morte fala a meu desrespeito

E não me leva para lá do Estige

Mas sim, a lembrar a tua esfinge


Na vida me procuro

Nas sombras brilho

Perco-me suspenso no atilho

E na noite me curo


Por desculpas que não se tecem

Por encontros que não acontecem

Por vidas que outros não conhecem

dó(!)r

 Doem-me os cornos
E eu que nem sabia que era corno

Dói-me a vida, a alma, o corpo,

Depois de morrer oxalá fosse morto


Então absorto

Encontro-me morto

E vejo que sou nada

E ousada

Que eras

Roubando-me sonhos acordados

E eu que esquecia-os, roubado

Do que se tinha passado

e eu que esqueço os passados

Desejo morrer e ficar no solo plantado


E hoje esqueço

Amanhã sonho

Depois morro

Com um sorriso medonho


Para que tu não esqueças

Nao me reconheças


Para que eu durma

Às mais estranhas horas

Num mundo sem agoras,

Só depois(es), mas todos sabem

Eu bem sei

Que tu sabes, o que eu não lembro

E que nao sei, não me lembro


Mas tudo está no passado

Num agora despedaçado

Num presente inacabado

Num dia, em semanas, num bom bocado

sexta-feira, 19 de maio de 2023

vi-te atrás das sombras

 Grita para dentro de mim

Leva até ao mudo êxtase de criação

Empurra-me para alem do abismo sem fim

Mas grita. Grita para dentro de mim

 

Provoca-me com o teu perfume

Enquanto eu te deixo em baixo lume

E fumo, depois vem o queixume

 

Dói-me que tenhas desaparecido

Mas em mim ainda te tenho, mas num reflexo partido

E tu fazes de mim esquecido

Mas na verdade sinto-me consumido

 

Usado, atraiçoado

Mesmerizado e calado

terça-feira, 9 de maio de 2023

O apotecário

 Fumo, sem saber, mas fumo

e em espectros os meus sonhos se erguem

E a vida que levam na minha mente, para além de viva...

É também o que me leva...

Sinto que deste mundo, resumo,

O que não me convém, mas gosto de fumar com e sem conviva,

E a morfina, que me leva à treva...

Às alucinações que me pedem, e impedem...

Que ame a realidade, daí que dela fuja, 

Então amo esta poesia

Que é, em si mesma, a sua magia,

Mas que a mim...  me distingue da coruja!

segunda-feira, 8 de maio de 2023

O rio de chamas

 Onde o rio pega fogo

Onde viver passa a ser jogo
O vilão ganha com o logro
De Deus Diabo é o sogro


Viver apenas para morrer,

espero que nunca me venham a esquecer
Na morte futura
Que, sem cura,
Deixa de viver
Para em mim existir

Sem que eu tenha que o pedir

Jogo de sentir os cosmos a viver

 A lua cede ao sol, o céu e o caminho

Partilham umas horas nas alturas

E o eremita sozinho

É o mestre dos rituais e emoções puras

Que enquanto alma já conhece a morte
e também conhece o caronte

Que pede a ele próprio que a transporte
Ao monte mais invulgar
Acaba de acordar
E faz do seu caminho ao mais invulgar monte

Estás dormindo por entre ciprestes sempre verdes

Não estás morto pois que estás na mais invulgar colina

No meio de arvores e neblina
Não me deixem morrer sem ser em cima da mais invulgar colina

O céu cadente

O céu cadente

Do sol poente

Faz-me sentir indiferente


A lua que voa alta

E a pessoa que me faz falta

Fazem de mim doido, lunático, indigente

Sempre me senti diferente

Das pessoas e desta gente


E o sol que teima em arder

E o mar salgado que sempre vou ser

São os meus abrigos

Enquanto coisas sem sentidos

Enquanto meus amigos

domingo, 7 de maio de 2023

Mãe quem a tem...

 Quem tem mãe tem tudo

Quando se perde o mundo vira mudo


Quem a perde, perde-se  

Quem a perde... desenmerde-se


Vivo debaixo da asa

Sorte em ter minha mãe em casa


Ela deu-me ao mundo

Criou-me com amor profundo


Em breve saio a voar

Enquanto livre pássaro a assobiar

Cara mãe, sempre contigo no coração

Dedico-te este poema e to entrego em mão