quarta-feira, 4 de março de 2015

O pássaro azul

Cassiel Porto era um homem de larga idade, levava uma triste e solitária vida. Sua casa era pequena, pouco mobilada e solitária. Ele levava a vida na esperança da reforma pois tinha 64 anos embora não o aparentasse por causa de seus olhos tristes e rugas vincadíssimas.
Então chegara mais um dia naquela sua enfastiante vida mas ele acordara com um pássaro cantando dentro de seu quarto. – Mas que raio?
Afugentou o seu pássaro, pois que ele o tornara seu dono, mas ele se recusou a partir. Pousou sob seu ombro e cantou a seu ouvido uma melancolia soturna, uma ode à vida e à morte, uma antítese paradoxal. – Mas que raio?
Então como se nada fosse continuou seu dia mas sempre com o incómodo de seu pássaro que apesar de não gostar se tornava habituado. Aquele incómodo era bastante peculiar e atraia a atenção dos transeuntes que na rua indiscretamente olhavam, alguns riam outros comentavam mas a nenhum escapara aquele pormenor. O pássaro cantava agora feliz abanando as asas, esbracejando diriam alguns, mas a sua melodia tornara-se ainda mais sinistra. Cassiel quase que juraria que o pássaro falava em alguma língua cantada que ainda não havia sido inventada. O vento que se fazia sentir não abalava o pássaro que cantava feliz uma sinfonia sinistra que começava aos ouvidos de Cassiel a zumbir. Apesar de haver mil e um pássaros iguais a este que voavam livres pela rua ele não desistia de seu novo poiso quente e confortável e o seu canto belo mas infeliz fazia-se notar tanto que os moradores daquela rua abriam as janelas e olhavam com espanto e admiração à procura da origem daquela triste melodia.

Depois de uma curta viagem chegou ao seu trabalho mas o seu pássaro não fugia apesar da situação claustrofóbica em que se encontrava. O vagão de piloto de uma carruagem de metro abarrotada de controlos e maquinarias.

Todo o seu dia havia sido cantado por um pássaro que não havia desejado a liberdade mas sim infernizar ainda mais o inferno vivo de um mortal que não o desejava.

Então durante a noite quando ele caíra na inactividade do sono profundo sonhou que o pássaro, aquele belíssimo rouxinol azul, era o fantasma de sua querida Inês que desaparecera de sua vida no dia em haviam ido à ópera ver uma sinistra ópera à qual ele tinha ido vestida de azul e após a qual ela se negara a viver mais com o seu amante.

Foi durante essa mesma noite que o pássaro fugiu mas não sem antes lhe segredar ao ouvido: eu amo-te. Ele acordou sobressaltado pois se apercebera da veracidade de seu sonho e tentou irremediavelmente apanhar o seu pássaro que lhe fugiu por entre os dedos e foi rua fora cantando desta vez uma melodia de amor incompreendido.

De manhã acordou e chorou sem razão a perda de seu incómodo. Levou todo o dia no absorto pensamento de sua amada Inês. As suas saudades voltaram agora que já a havia esquecido, trazidas por aquela nobre ave canora que cantava uma melodia de tristeza e má sorte.

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