quarta-feira, 4 de março de 2015

O injustiçado



Acordei... não sabia onde estava mas a escuridão que me toldava o olhar não me deixava ver o que fosse. Sondei o meu redor à procura de algo… o que descobri era que eu estava deitado em cimento e o tecto, a dois centímetros da minha cabeça, era também ele de cimento. Havia alguma coisa a faiscar à distância. Aproximei-me. Algo me dizia que era a minha culpa que eu estava naquele sitio mas não me lembrava de um passado nem presente nem distante qualquer, era como se ali tivesse nascido. Rolei para os lados a tentar escapar mas havia alguma coisa ao meu lado viscosa. Era um morto … quem, não sabia. As faíscas começaram a iluminar-me o caminho que quanto mais avançava mais estreito se tornava. A vida como eu a conhecia era estranha e soturna a única lembrança que possuía era um sorriso mal escondido na cara de um desconhecido e esse sorriso agora acompanhava-me. As faíscas iluminaram o tecto e pude ler em letras mal escrevinhadas “justiça foi feita”. Então que teria eu feito para morrer num lugar daqueles? A justiça não pode ser unilateral mas tem de ser consensual o que para mim é obvio para outros nem é justificável. Apenas os injustiçados conhecem o verdadeiro poder da justiça e também a sua inevitabilidade.

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