Dizem-me "cara de abençoado"
Só se for pelo diabo
dizem-me "és privilegiado"
Mas quando começo a contar dores, não acabo
Dizem-me "és inteligente"
Talvez demais para não ser indigente.
Dizem-me que escrevo bem
Mas no fim sou um Nemo, ninguém.
Dizem-me que tenho jeito para a escrita
Mas sinto-me indigno, da cena artística, um parasita
Sinto-me ignóbil, parado, amordaçado,
Sinto-me desperdiçado,
Sinto-me, enquanto escrevo, a escrever,
Que sou apenas um escritor a ser.
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