Todas as pedras da calçada desejam secamente o meu sangue
Todos os pequenos cantos aguçados imploram que eu neles bata com a cabeça
Todos os lances de escada anseiam pela minha queda
Todos os precipícios sem fundo gritam em voz vigorosa pedindo que me afogue
Agora eu, cansado, irremediavelmente cansado
Fumo este cigarro que me mata
E também ele me deseja a morte
Todas as noites bato com a cabeça na secura da insónia
Todos os dias desejo dormir e esquecer
Quando acordo desejo não o ter feito
Acordar é para mim sacrifício e sacrilégio
Tudo o que sonho vejo desaparecido e desencontrado
Deambulo sonâmbulo descrevendo círculos de dor
Apregoou o meu azar e a minha falta de ar
Perco me em divagações sem sentido algum
O que me dói não sei talvez seja o nada talvez seja tudo
Sinto me vazio no entanto cheio de dor
O que me completa foge de mim e atraiçoa me
Desconto mas atraso a cada dia a minha sentença de morte
Tudo grita impassível e alto em voz de sufoco
A dor que me consome manifesta se em tudo
Todas as vozes
Todas as imagens e todos os sons
Nas sensações
E nas dores que se distinguem em nuances de sofrimento e angústia
Pauso e sofro por momentos para esquecer que sofro e recuperar fôlego
Acolho a introspecção e nela me afundo
Momentos depois não sei distinguir o sonho da realidade da ficção
E acordo acordado durante o dia com suores e delírios
Até às pequenas alegrias servem apenas para afagar os sofrimentos que me consomem
As chatices que me assombram são imensas
E as saudades idem e além
Construo ideias de morte sem deixar que elas de mim se apoderem
Mas amanhã, sim, amanhã talvez seja o dia
Mas depois... Nunca é esse amanhã e as dores amontoam
E os cegos que vissem e os mocos que falassem pois amanhã nunca chega e hoje nunca muda
Todos os dias elaboro uma escapatória mas ela nunca chega
Não vejo luz quanto menos túnel
As alturas olham para mim tentando me
A lágrima que me escorre pelo olho pede para ser a última
Mas amanhã mais virão
Penso que um dia terá um fim
Mas esse dia nunca chega
E agora em meio de lágrimas salgadas clamo e imploro á janela que me deixe cair
E ao chão que me deixe morrer
Cada vez mais a janela me parece bela
E o chão uma sumidade
Todas as invejas dos outros serão castigadas
A inveja envenena o coração e mata por dentro
Como um rato de esgoto que se alimenta de ratoeiras
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